quinta-feira, 14 de março de 2013

Caminho do Padre Anchieta 2º dia

A caminhada: início
Convento da Penha
      Passei a madrugada na rodoviária. Não dormi e também não descansei, preocupado com minha mochila. Quando estava quase cochilando alguns moradores de rua se aproximaram de mim. Provavelmente estavam me vigiando.
    De manhã pego um ônibus para a cidade de Vila Velha, onde realmente começa a caminhada do Padre Anchieta. É domingo e quase não vejo pessoas pelas ruas. São oito horas da manhã e resolvo montar  pela primeira vez a barraca, pois estava com muito sono e não iria aguentar andar muito nessas condições.
     Já dentro do meu novo lar tomo um comprimido de diazepan, para poder relaxar um pouco, pois a noite na rodoviária de Vitória foi cansativa. Vez ou outra escuto um transeunte fazendo algum comentário, estranhando o fato de uma barraca estar montada naquele local. 
    Por volta do meio dia resolvo almoçar e desmonto a minha barraca. Com alguma dificuldade, consigo achar um restaurante aberto.  O preço é um pouco mais caro do que em BH: enquanto na capital mineira o self service à vontade custa por volta de oito reais, na capital capixaba custa dez reais. Depois procuro o albergue da cidade, mas, por ser um domingo não consigo entrar. Pinta um desânimo e a vontade de desistir. Estava muito cansado, o último banho que havia tomado tinha sido no sábado, às cinco horas da manhã, antes de pegar o trem para Vitória. Estava muito sujo, principalmente por causa do minério de ferro que fica impregnado em nosso corpo durante a viagem. 
   Então procurei um outro lugar tranquilo para armar a minha barraca e passar o domingo, a espera do atendimento no albergue na segunda feira de manhã. Acho um lugar bastante calmo, chamado de Prainha, onde dezenas de barcos de pescadores estão amarrados uns aos outros. Há várias palmeiras e o vento é bem forte. Acho o lugar perfeito para montar a barraca, ainda mais por ser ao lado de um posto policial. 
    Fiquei apreensivo no início, esperando uma retaliação de algum morador ou por parte da polícia, afinal era o meu primeiro dia  como morador de barraca de camping. Mas não fui incomodado por ninguém naquele domingo de sol. Uma vez ou outra me assustava ao ouvir passos durante a madrugada. Caiu uma chuva fraca e alguns pingos caíram em cima de mim, pois a  barraca não é das melhores e não aguenta chuva forte. Vou ter que contar com a sorte também. 
    Acordo com o barulho de algumas motos. O local é usado por instrutores de auto escolas. Vou a padaria tomar o café da manhã e me assusto com o preço: dois pães com manteiga com café com leite custam quatro reais. Não tenho escolha e faço a minha refeição matinal. Penso que a minha viagem terá que ser o mais breve possível, por causa dos custos. Não poderei curtir as praias e as paisagens como havia planejado. 
    Já no albergue, consigo finalmente tomar um bom banho e lavar minhas roupas. A sensação que tive depois do banho é que tinha ficado dois quilos mais leve. Do albergue dá para se avistar o Convento da Penha, que fica bem no alto de um formação rochosa. A caminhada até lá não vai ser nada fácil, o sol está forte e quase não há nuvens no céu. 
    No albergue converso com uma assistente social que, além de bonita, é bem legal, fui logo com a cara dela. Todas as funcionárias são legais, mas a que mais me identifiquei foi essa. Deveria ter uns 23 anos e tinha um sotaque bem legal, não sei de onde, pois até hoje não descobri se capixaba tem algum sotaque. Falamos sobre vários assuntos, inclusive o Caminho do Padre Anchieta. Foi uma das poucas pessoas que não me disseram que eu estava maluco, e me deu a maior força, dizendo que o caminho é muito bonito. Ela disse que nunca viu alguém fazer esse caminho sozinho. 
    A outra assistente social me aconselhou a fazer a caminhada em grupo, dizendo que poderia ser perigoso e tal, mas respondi que não teria graça, que sozinho poderia fazer o caminho no ritmo que quiser, curtir as paisagens e praias. 
    Vila Velha é uma cidade com poucos moradores de rua, pelo pouco que deu para perceber. Esse albergue(ou centro de apoio) é pequeno e as assistentes sociais conhecem todos os moradores pelo nome. Havia pessoas de passagem também, como eu. Conversei um bom tempo com um ciclista de Belo Horizonte também, que estava andando por ai também, meio sem rumo. 
    Depois do almoço o sol se esconde entre enormes nuvens escuras e parece que vai cair muita chuva, mas, para minha alegria, só chuviscou, o que serviu para refrescar o calor que estava forte. 
  O esforço pela subida a convento(700m) foi totalmente recompensado. A vista é maravilhosa. Não havia muitos turistas no dia e deu para curtir a vontade o lugar. Mas não tanto o quanto queria, pois tinha muito o que andar até chegar ao primeiro ponto de parada, que é Barra do Jucu, ainda em Vila Velha. 
    Desço apressadamente e vou para a orla de Vila Velha. Na praia da Costa vou logo entrando no mar, mas quase fui derrubado por uma onda, e o local já é bem fundo logo na entrada da praia. Percebi que não havia nenhum banhista no local e resolvo seguir a caminhada na calçada mesmo. Metros depois avisto uma placa avisando que o local era perigoso para o banho. Acho que deveria haver mais placas com esse aviso. Passo pela praia de Itapoã e de Itaparica rapidamente. Estava andando em um bom ritmo e só tive uma leve distensão na coxa.
placas colocadas no percurso
    Depois da praia de Itaparica havia dois caminhos para Anchieta: a rodovia ou as praias desertas. Claro que sigo as placas que indicam o caminho das praias, apesar dos avisos da recepcionista do motel onde peguei água dizer que o local é perigoso. Já é noite, as praias são desertas, ou melhor, quase desertas, a não ser pelos pernilongos que deveriam ser gigantes,  e não dava nem para parar para beber água que eles atacavam em grupo. Não queria voltar, a minha intenção era montar a barraca numa dessas praias, mas não tinha como ficar naquele local, sem repelente contras os pernilongos. Tudo estava escuro, não dava para enxergar nada em minha volta. Para piorar a situação, o terreno é completamente arenoso e macio, me deixando um pouco cansado. Fiquei na dúvida quando encontrei um cruzamento, pois não deu para enxergar nenhuma placa com algum aviso. Depois de quase duas horas de caminhada, finalmente chego no balneário de Barra de Jucu.
A primeira impressão não foi das melhores, pois a entrada é uma ponte sobre um rio com um cheiro não muito bom. Olho o preço de algumas pousadas e, apesar do cansaço, não fico em nenhuma delas. Armo a minha barraca na praia mesmo e tomo um banho nessas duchas para se tirar a areia do corpo, por volta da meia noite. 
    Tive que esperar esse horário pois um grupo de jovens ficou malhando até esse horário. Quando terminaram, perguntei para eles se havia um local barato para dormir e eles me indicaram um quarto que custa  vinte reais, mas, como já havia armado a barraca, resolvo dormir na praia mesmo. 
Barra do Jucu

7 comentários:

  1. Que Deus Continue te Abençoando na Sua caminhada...

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    1. Amém. Obrigado pela visita ao blog, Deus mandou um bom anjo da guarda para me proteger, pois quase não tenho passado por problemas. Tudo de bom pra vc por ai.

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  2. É isso aí amigo. Siga sua caminhada. Seu destino. Aproveite estes momentos que a doença lhe proporcionou para seguir seus intentos. Nem sempre podemos fazer o que temos vontade. Ou às vezes nem vontade temos. Desculpe o negativismo, é que os sintomas negativos estão fortes, e tenho ou não tenho, sei lá, vontade de fazer nada. Só ficar deitado e dormindo. Tem horas que dá vontade de desistir do tratamento, mas sei que ficaria bem pior, os surtos iriam voltar entre outras coisas. Mas vamos seguindo do jeito que dá. Boa sorte no seu caminho. E muito cuidado. Não confie em todo mundo. Tem muita gente ruim que finge ser boa. Fique bem.

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  3. Sei como é cara, também passei por momentos dificeis tomando as medicações fortes, realmente não dá vontade de fazer nada, nem sair na esquina de casa. Hoje não estou totalmente livre da esquizofrenia, passo por alguns problemas também, mas dá para ir levando. Realmente no caminho não confio em todos não, quase não converso, só peço informações mesmo. Obrigado por seguir o blog. Estou indo para Belo Horizonte quando terminar, gravei muitos videos legais, mas no momento estou sem pc para editar a caminhada, e isso demora um pouco. Será que posso editar o video ai em sua casa?

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  4. Me mande uma mensagem quando estiver voltando. Vou conversar com minha esposa sobre isso, não faço nada sem autorização dela, pareço até uma criança, mas foi o melhor jeito que encontramos de resolver as coisas e evitar problemas. Boa sorte na sua empreitada e fique bem e grande abraço.

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    1. Tá legal, assim que acabar o caminho, te mando uma mensagem. Editar video é um pouco complicado, e na lan house pode ficar meio caro no final, pq também demora um pouco, e, o fato do tempo valer dinheiro atrapalha um pouco na criação. Mas se ela não permitir não tem problema nenhum, depois olho um outro jeito aqui para editar o video, pois as nets da prefeitura não permitem usar as entradas usb. Abraços.

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