quinta-feira, 11 de abril de 2013

Nas ruas de novo


    E aconteceu o que eu já estava meio que adivinhando, por conhecer um pouco de mim mesmo: Não aguentei ficar confinado no abrigo e pedi para sair, apesar do meu tendão de aquiles não estar totalmente curado da lesão lá no Espírito Santo.
    Fiz várias amizades no abrigo, afinal éramos meio que solidários no sofrimento de cada um. A experiência foi enriquecedora, apesar de um pouco triste, ao ficar sabendo da história de cada um que estava no abrigo como permanente(ficam lá o dia inteiro). Eles não estavam ali por que queriam, cada um tinha sua história de vida e dava para perceber em seus olhares que não eram muito legais. Alguns até que eram divertidos e alegres, conseguiam ser assim mesmo nessa situação, se bem que alguns ali estavam meio que por comodidade, aproveitando a hospedagem e economizando em aluguel e alimentação, gastando o dinheiro em bebida e drogas, pois alguns estavam ali já trabalhando e a procura de algum lugar para morar.
    Não consigo ficar confinado em um ambiente fechado por muitos dias, ainda mais lotado de pessoas, foi algo parecido com o big brother, apesar de não haver disputas. Às vezes eu podia dar uma saida, para espairecer um pouco os meus pensamentos. Mas não deu. É a velha e maledita mania de perseguição, aliada ao fato de me sentir meio que preso, encarcerado, principalmente nos dias em que estavam reformando o piso da entrada  e não tinha como sair do abrigo. Não conseguia encontrar naquele lugar um cantinho só para mim, em que me sentisse à vontade e quase não tive vontade de escrever.
    A rotina estava me deixando meio robotizado e sem graça: acordava às sete horas, tomava café às sete e meia, almoçava às onze horas, o lanche era às três da tarde, o banho às quatro horas e o jantar às sete e meia. Depois íamos para os nossos quartos e conversávamos até o sono chegar. Me sentia parado no tempo, como o personagem do filme Feitiço do tempo, em que os dias não paravam de se repetir. Esse filme é muito bom, e recomendo a todos que ainda não assistiram, apesar de ser meio antigo.
    Claro que só tenho que agradecer o acolhimento que tive no abrigo, não sou ingrato. O meu pé até que teve uma melhorada, devido ao repouso. Não sou mal agradecido, sei que tem pessoas que não tem nem o que comer e gostariam muito de estar lá naquele abrigo. Mas é o que eu já disse algumas vezes: a solitude é uma necessidade para mim, cheguei a conclusão de que para ser eu mesmo eu preciso desse tempo só para mim. Acredito que isso deve acontecer com muita gente. Precisamos ficar a sós com nós mesmos, às vezes, para refletirmos sobre quem somos e o que representamos no mundo em que vivemos.
    O atendimento pelo SUS em BH está pior do que eu pensava, ainda mais por causa do surto de dengue. Só nestes três primeiros meses do ano, já foram notificados mais casos de dengue do que no ano passado inteiro! Resultado: o atendimento nas UPA's e postos de saúde, que eram péssimos, hoje não tem nem como classificar. Agora eu me pergunto: por que a prefeitura de BH não faz como o Rio de Janeiro e bota o exército para trabalhar contra a dengue?

    Na primeira vez em que fui ao posto de saúde, a enfermeira, que faz a triagem, só de olhar o meu pé afirmou que eu não precisava de atendimento médico. Ela nem ouviu a minha história e já deu o diagnóstico. Eu detesto ter que ir a posto de saúde e só procurei um por que a lesão não melhorou depois de um mês. E também a musculatura da perna direita estava muito cansada e dolorida, por não poder firmar a perna esquerda no chão, e eu não tenho vocação para saci pererê né?
    Então disse para a enfermeira que, se fosse comprar um tênis e o meu pé estivesse inchado, ela teria que comprar um tênis para mim, já que o número 41 só estava cabendo no pé direito. Depois de bancar o chato, ela finalmente cedeu e me encaminhou para o ortopedista. Agora só Deus sabe quando serei atendido. Especialista no SUS é igual nota de cem reais: todo mundo já ouviu falar que tem, mas poucos tiveram a oportunidade de ver.(acho que baixou em mim um daqueles apresentadores de programas de TV que saem criticando todo mundo rsrsrs).
    O jeito então é consultar o Dr. Google, e até já descobri o nome do problema que tenho:Tendinite do calcâneo. Se essa tendinite tivesse ocorrido em outro local, tudo bem, mas foi no nosso ponto fraco, onde todo o peso do nosso corpo se apoia quando caminhamos. Vou procurar o tratamento também no DR. Google(fazer o que né?) e também tentar um bom farmacêutico para tentar sair dessa. Com esse atendimento do SUS ainda temos que ouvir propaganda na TV dizendo que não é recomendável procurar um farmacêutico para resolver esses tipos de problemas de saúde. Vamos fazer o que então? Ficar esperando estáticos em casa o chamado do posto de saúde? Ou procurar um curandeiro? Ou ir providenciando os nossos caixões?
   

Um comentário:

  1. Você sumiu amigo. Fiquei preocupado. Está tudo bem com você ? Continua morando nas ruas ? Dê notícias.

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