segunda-feira, 2 de outubro de 2017

Missão dada é missão cumprida!


    Sempre tive um leve complexo messiânico, até mesmo antes de surtar gravemente pela primeira vez no ano de 2002. Achava que era de alguma forma um ser especial com uma missão especial para ser realizada aqui neste planeta. E também achava que era protegido por uma força superior, que eu costumava chamar de anjo da guarda. Esses pequenos delírios retrato na minha postagem "Complexo messiânico", por isso não estenderei sobre o que sentia e pensava antes de surtar.
   Já durante o surto tudo tomou uma proporção absurda e cheguei por algum momento a acreditar que era o próprio Messias, pois as iniciais do meu nome também são o J e o C. E na época do surto eu tinha 32 anos de idade e acreditava que não iria passar dos 33...
    Essa fase foi muito complicada e difícil. Quando estava peranbulando pelas BR's achava que seria morto de uma forma bem cruel, assim como Jesus também morreu. As vozes só falavam em me matar, aonde quer que eu fosse. A mania de perseguição me perseguia além das fronteiras municipais de Minas Gerais. Não adiantava mudar de cidade, haviam inimigos imaginários por toda a parte. Muita gente pensa que a pessoa que tem esquizofrenia fica pensando que tem um amigo imaginário, quando na verdade, acreditamos ter vários inimigos imaginários, mas que são reais em nossa mente, principalmente quando estamos surtados.
    Imaginava que seria arrastado pela multidão, que iriam furar meus olhos e quebrar as minhas duas pernas, como forma de castigo por tudo de ruim que pensava ter feito em meus 32 anos de vida. Imaginei todos os tipos de morte e castigo, menos as rápidas, como um tiro na cabeça, por exemplo. Tinha que ser tudo lento e bem sofrido para compensar os meus pecados. O sentimento de culpa exagerado também pode ser um dos sintomas da esquizofrenia...
    Certo dia, ou melhor, certa noite, quando estava peranbulando pelas BR's, cheguei a ter uma alucinação visual bem interessante e horripilante: vi algo bem parecido com a sombra da morte andando pela estrada. Mas como eu sei que o que vi era uma alucinação? É que analisando friamente hoje em dia dá para relembrar que a suposta sombra da morte não andava pela br, e sim deslizava suavemente e bem lentamente também. Parecia com a sombra da morte, e andava com a cabeça curvada para baixo e com aquele manto, parecendo também um monge beneditino, só que com a cabeça coberta.
tive uma alucinação visual bem parecida com essa... 

   Na primeira vez que a vi, senti um forte calafrio na nuca, até parecia que estava saindo eletricidade dessa região do meu corpo. Algo me fez olhar para trás e lá estava ela, desfilando elegantemente pela estrada, sem ao menos me olhar. Confesso que tive um pouco de medo, mas não saí correndo ou gritei. Sempre achei a minha vida um tédio e torcia para que acontecesse algo de sobrenatural. Poderia ser um espírito, um et, um duende, fada, sei lá, qualquer coisa, mas tinha que ser sobrenatural.
    Quando a sombra desapareceu no final da estrada, continuei a minha caminhada. Prentedia ir para o Rio de Janeiro a pé, para tentar fugir dos inimigos imaginários que só estavam em minha mente. Resolvi ir de noite para dificultar o reconhecimento desses inimigos.
    Mas não demorou muito e a sombra apareceu novamente, desta vez caminhando em direção contrária à minha. Estava com o mesmo aspecto e aparência e deslizava lentamente pela br assim como da sua primeira aparição.
   Mas desta vez não tive medo, queria até conversar com ela, perguntar se estava procurando por minha pessoa. Queria saber por que não conseguia tirar a minha própria vida, ou então por que a dona morte não vinha me buscar, depois de várias tentativas frustradas de encontrá-la. E também confesso que passei por situações complicadas por se achar superprotegido pelo meu anjo da guarda, e o fato de não ter morrido por causa dessas situações também me deixava bastante intrigado naquele período de pico do surto psicótico que tive. E. para piorar tudo, uma voz havia falado que eu já havia me transformado em uma alma penada e que não precisaria mais me preocupar com nada, nem com alimentação, nem com o frio, nem com o calor e nem mais com as roupas. Confesso que quando ouvi essa voz não fiquei triste e sim aliviado, pois, como alma penada não poderia mais ser visto pelos meus inimigos imaginários. Bem, essa é uma história que conto por completo no meu livro "Mente Dividida, Memórias de um esquizofrênico", distribuído por mim mesmo, pois como não sou fã dos medicamentos, dificilmente irei encontrar algum apoio no meio da saúde mental para publicar essas minhas aventuras. Mas não ligo, não quero ter que perder a minha liberdade apenas por ter algo publicado ou ter apoio, fico completamente satisfeito em ter o meu espaço aqui neste humilde blog e escrever as coisas da maneira que gosto e da maneira que gosto de escrever.
No link abaixo tem todas as informações sobre como adquirir o meu livro:
http://memoriasdeumesquizofrenico.blogspot.com.br/2012/08/mente-divida-memorias-de-um.html
    Mas, voltando ao encontro com a dona morte, não falei nada com ela, mas queria que ela me levasse naquele dia. E em outros dias também, confesso. Principalmente antes de surtar, quando não me conhecia e nem me compreendia totalmente.
    Acredito sim que a dona morte quisesse me levar naquela noite, mas acho que alguém lá em cima resolveu intervir, e disse para a dona morte ir embora e me deixar quieto, pois teria algo para me dar para fazer. E creio que seja exatamente isso o que estou fazendo aqui neste blog ao longo desses cinco anos de postagens e mais postagens. Algumas boas, outras mais ou menos, e outras que nem dá vontade de rele. (Ando revisando minhas postagens, acredito que melhorei um pouco a minha escrita com a prática ao longo desses anos). 
    Acho que alguém lá em cima pediu para a dona morte me dar mais um tempinho aqui na terra e tentar levar uma mensagem positiva e de esperança, de que a esquizofrenia é sim complicada de se lidar, mas também não é o fim. Existem dias sim que estamos mal pra caramba, pensando que é o fim de tudo. Às vezes fico tão desanimado, com tanta falta de energia por causa dos sintomas negativos da esquizofrenia, que passo a acreditar que tenho uma doença grave, que tenho algum problema no coração, ou algo parecido. Quando entrei em depressão pela primeira vez fiquei tão mal que emagreci cerca de 12kg, e estava tendo diarreias frequentes e sentindo muita fraqueza e passei então a acreditar no boato de que estava com aids... Aí foi quase o fundo do poço. Boa parte da cidade onde eu morava na época e até eu mesmo já havia decretado o meu fim...
   Mas, não sei por que, tudo pode mudar. Pode demorar, mas muda. Talvez seja as variações de humor que podemos ter. Elas não são sintomas exclusivos da bipolaridade, quem tem esquizofrenia também pode viver nessa roda gigante.

Passei e ainda passo por maus momentos, e tudo levo como aprendizado. Não ligo para as indiretas que algumas pessoas fazem, afirmando que tenho uma vida boa só por ser aposentado. Ganho um salário mínimo e não gasto com drogas ou álcool. Então se sobra algum dinheirinho para fazer uma pequena extravagância (comprar um doce, por exemplo) é por que consigo de alguma forma administrar o pouco que ganho. Se hoje de alguma forma me tornei uma pessoa melhor é por que aprendi algo que só a escola da vida pode nos ensinar.  
E não é algo sobre a vida dos outros, sobre como se comportar ou como ser em nossas vidas... É o duro e difícil aprendizado de nós mesmos... Ainda tenho muito que aprender sobre como lidar com as pessoas. Mas o primeiro passo já foi dado.
   Então hoje, sem delírios e complexos, acredito que tenho uma missão. Uma missão que podemos dar a nós mesmos e não aquela que só os "escolhidos" e santos as têm.
 Podemos sim de alguma forma ajudar a nós mesmos e aos outros. Me tornei uma pessoa melhor ao saber através dos comentários aqui no blog e por email que de alguma forma ajudo as pessoas a entenderem um pouco esse mistério chamado esquizofrenia.
Eu me dei uma missão, e você, já deu a sua para si mesmo?

15 comentários:

  1. Olá, descobri seu blog quando meu namorado me revelou ter tido seu primeiro surto uns 8 anos atrás. Ele foi diagnosticado com Esquizofrenia. Ficou internado por cerca de um mês e depois saiu do hospital e ficou sem medicação até então vivendo normalmente. Hoje estamos passando por um momento difícil, onde ele esta depressivo, sem concentração, parou de trabalhar e não consegue dormir. Nossa vida parou. Será que dessa vez a doença será "cronica"? Quero dizer, será que ele não se recuperará sozinho como da outra vez a 8 anos atrás sem remédios? Ele tem pavor da medicação por conta dos efeitos colaterais.

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    1. Olá
      Talvez esse desânimo dele seja em consequência dos chamados sintomas negativos da esquizofrenia, que são caracterizados pela falta de energia, apatia, embotamento afetivo. Se fala muito bem de um medicamento chamado aripripazol. Dizem que é bom para esses sintomas negativos e que tem poucos efeitos colaterais.
      O problema é que é um medicamento ainda caro (acho que por ser novidade). Mas talvez ele consigo gratuitamente através do governo com o pedido do psiquiatra.

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  2. doei uma pequena ajuda para você, espero que ajude um pouco.

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    1. Olá
      Muito obrigado, vai ajudar e muito sim. É só uma fase, mas tenho certeza que irá passar logo. Queria até achar mais palavras aqui para agradecer, mas não tem como fazer, pois vai me ajudar e muito a aliviar as contas.

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  3. VC ainda escuta vozes ou não já tenho esquizofrenia a dois anos e ainda escuto vozes quando saiu na rua tomo quetiapina 200 mg já tomei andol resperidona olazanpina e nenhuma acabou com essas vozes que escuto quando saiu na rua em casa parou as vozes que eu escutava agora escuto só quando saiu na rua vozes que me colocam pra baixo to com alto estima baixa por causa delas gostei muito do seu blog muito bom

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    1. Olá
      Ainda escuto algumas vozes, e, como no seu caso, acontece principalmente quando saio nas ruas. Talvez isso aconteça por que fico um pouco tenso e estressado quando vou para as ruas. Ando sempre com o fone de ouvido e a música bem alta, mas ainda escuto algumas vozes que hoje em dia são as vozes comentadoras e as vozes que zombam. As vozes ameaçadoras até que não as escuto mais.
      Obrigado pela visita ao blog e você já conversou com o psiquiatra sobre as vozes mesmo tomando a medicação?

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  4. Sim ja mais acho que não tem jeito as vozes sempre voltam ja tentei a maioria da medicação para equisofrenia e nao pararam acho que vou morrer escutador voz não tem jeito

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  5. sofro calado a mais d 10 anos com toc e agora estou com sintomas de esquizofrenia tb. resolvi buscar ajuda pois escuto estas malditas vozes e tive alucinacao na rua. estou abalado nao posso andar em altura q vem um desejo forte em pular e uma voz me criticando p mim pular.me passaram sertralina respiridona e zolpidem a noite pois tem dia q nao durmo. pois os pensamentos nao me deixo fko pensando em tdu q ja vivi. este texto foi uma reileitura d mha vida mtos deste pensamento eu tibe sofrendo calado tentando nao demostrar p ninguem. uma vontade de andar e andar e andar p algum lugar em busca de alguma coisa q so no fim acharei. um abraco

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    1. Força aí, continue na luta. Essas situações devemos encarar como um desafio a ser vencido. Tudo é mais complicado por que ainda existe o preconceito e a falta de informação sobre o assunto, mas o que podemos fazer é seguir nossas vidas sem se preocupar com as vozes, sejam elas as reais ou não.
      Abraços

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  6. Eu dei uma missão pra mim também. E risperidona não tá fazendo efeito nenhum tô ficando é deprimido, to quase pedindo pra não tomar isso, e abraçar de vez a causa; os lances que rolam comigo fazem muito sentido, mesmo a galera geral falando que não - acredito que poucos são capazes de entender.

    Saudações!

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    1. Verdade, as pessoas em sua maioria entendem ou procuram entender apenas o que enxergam, pouco se ligando para outros assuntos. Algumas pessoas acredito serem um pouco superficiais e entendiantes. Mas é isso mesmo, cada um na sua e se pelo menos respeitarem a individualidade de cada um o mundo seria bem melhor.
      Saudações.

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  7. Oi, boa noite, meu nome é Raul, Eu li este relato seu e me identifico muito eu tive a primeira crise a mais ou menos 4 anos atrás devido a adicção e de um ano para cá eu venho tendo essa mania de perseguição as pessoas falam que não tem ninguém querendo me pegar mas eu acredito que tem psiquiatra psicólogo minha mãe minha família todo mundo fala que não tem ninguém mas eu acredito firmemente que tem e também eu vinha tomando Risperidona e troquei agora para olanzapina só que não está resolvendo e eu vou começar a tomar clozapina eu queria saber eu achei pouco na Internet e queria saber mais sobre esse remédio se você sabe alguma coisa sobre a clozapina você poderia me falar para me informar melhor.obrigado

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    1. Pelo que já ouvi dizer a clozapina é indicada para o tratamento da esquizofrenia quando os sintomas ainda persistem mesmo tomando a medicação. Talvez seja esse o seu caso. Dê uma lida nesta matéria sobre a clozapina.
      http://entendendoaesquizofrenia.com.br/website/?p=3728

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  8. Bom dia. Voltei hoje do psiquiatra, estou indo para a risperidona, nada feliz. Tinham me passado Aristab, mas custa mais de 300 reais uma cx. Sem condições. O único diagnóstico até agora foi F32 surtos depressivos, acho que porque nunca surtei ao ponto de me internar, tenho 19 anos. Não gosto de ir ao psicólogo, sou muito ativa em estudos e trabalho, mas escondo e sofro sozinha o que sinto. Seu blog me acalma. Já fiz terapia ocupacional, psicologo, tomei aristab, olanzapina, valium, frontal entre outros. O pior pra mim foi o valium porque comecei a tomar c 15 anos e demorei p parar. O pior de tudo é não ter um diagnóstico, ñ sei o que estou tratando. É dificil. Vou mandar uma ajuda p vc assim que possível. Fica na paz. abcs

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    1. Olá
      Sim, a dúvida parece ser tão cruel quanto o transtorno. Mas você tentou conversar com o seu psiquiatra sobre isso? Sei que grande parte parece não gostar muito desse diálogo, mas talvez o seu tenha esse cuidado de ter essa abertura com o paciente. Ou então a psicóloga que acompanha o seu caso.
      Mas temos que levar em conta que receber um diagnóstico pode ser uma situação complicada também, muitos não aceitam e até se revoltam.
      Mas a falta de informação e a dúvida creio que seja pior. Só sabendo o que temos é que podemos começar a nos informar e a lutar.
      Fico feliz em saber o que escrevo ajuda as pessoas de alguma maneira. Talvez seja uma boa praticar algum esporte ou outra atividade que diminua o stress. Também aconselho o ômega 3.
      Obrigado pela visita.

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