20 de maio de 2013- segunda feira
Vista Alegre-Cruzília
Acordo um pouco cansado, não consegui nenhum pedaço de papelão no povoado de Vista Alegre, e não deu para conseguir, não só por causa do frio como também pelo fato do colchonete já estar um pouco achatado com o tempo e não estar mais macio. A noite foi tranquila, sem movimento algum, não se ouvia nada, muito bom mesmo.
Tomo um cafezinho no único bar do povoado e, ao entrar, fico impressionado com a semelhança do nariz do balconista com o do Michael Jackson(depois da operação). É idêntico! Fico me perguntando se o cara não fez plástica também, mas acho que não, é natural mesmo, ele não iria viajar para São Paulo ou Rio de Janeiro só para fazer uma plástica e se parecer com o Michael Jackson. E ele também deixou o cabelo grande, que ficou bem parecido. Se colocasse uma maquiagem, podeira fazer o cover do rei do pop.
Estou na dúvida, não tenho uma meta definida para hoje. Segundo a planilha, tenho que percorrer 42km para chegar ao município de Cruzília. Com esse peso nas costas e com a dor na canela, não conseguirei andar essa distância toda. Não existe um povoado no meio do caminho e talvez eu tenha que dormir no meio do mato desta vez. Não que eu tenha medo, mas, como já disse antes, essa barraca que estou usando não é própria para o clima frio.
Penso em tentar um carona lá pelo quilômetro vinte e cinco, mas, logo no início da caminhada avisto uma placa indicando que Cruzília está à 30km de distância. Penso um pouco, converso com alguns moradores, e chego a conclusão que a estrada real sai da via principal e "dá algums voltas" para voltar nela depois. Resolvo então só seguir a principal, dando um total de 33km de distância no dia, o que já excede o limite estipulado que é de 30km por dia.
O dia está muito quente, o mais ensolarado até o dia de hoje. Não encontro nenhuma cachoeira pelo caminho para me refrescar. Também não encontro nenhuma casa ou fazenda para me vender ou me fornecer de graça um almoço. Passo o dia comendo frutas e biscoitos. Por volta das duas horas, a canela começa a doer um pouco e, com o tempo, vai piorando. Tenho que fazer várias paradas rápidas, não pelo cansaço, mas pela dor mesmo. Pela primeira vez, sinto sede no caminho sem ter lugar onde repor a água das garrafinhas. A região tem muitas fazendas, mas todas muito distantes do caminho, e tenho que racionar a água. Quando já não estava aguentando mais, peguei uma garrafinha vazia e comecei a fazer sinal para os motoristas pedindo água. Depois de meia hora, o motorista de um caminhão de transporte de madeira para e me arruma água. Disse que não poderia me arrumar carona, pois a firma em que trabalha não permite.
muita poeira pelo caminho |
Para complicar ainda mais a situação, muitas subidas íngremes pelo caminho. Estou no limite, mais cansado do que no primeiro dia, em que fiquei perdido na rodovia. Estou muito suado e sujo para tentar uma carona e o jeito foi partir para o sacrifício, mesmo com a canela doendo um pouco. Uma dica para quem vai fazer a caminhada a pé e pretende conseguir caronas: sempre ande com algum pedaço de papelão, para poder descansar e não sujar a calça, afinal, ninguém vai querer dar uma carona para alguém que está com a buzanfa toda suja de terra né?
uma pirâmide no interior de Minas? |
se parece com o que? quem adivinhar vai ganhar um rocambole, num oferecimento da estrada dos reais |
Vou meio que me arrastando até chegar a BR, faltando cerca de 4km para chegar em Cruzília. Esses últimos quilômetros quase sempre são meio desgastantes, geralmente não paro para descansar, fico muito ansioso para chegar ao destino e poder descansar.
Por volta das seis horas chego finalmente a Cruzília. Apesar do cansaço, procuro uma lan house. Mas, antes, mato a minha saudade das padarias de Minas. Como bolo, pão de queijo(é claro), broa de fubá, enfim, tudo o que o mineiro gosta. Esses últimos 100km foram meio complicados em termos de alimentação. Se na última pesagem eu estava com 82kg, creio que hoje devo estar com 81kg, as minhas canelas, que já são finas, estão parecendo um palito.
Na lan house, fui muito bem atendido. Net boa, PC bom, sem travar nada, fato raro nesta viagem. Fico umas duas horas navegando, para saber das novidades e postar alguma coisa no blog. Geralmente vou para uma lan house para acessar a internet e também descansar as canelas. Já estava no limite, e acho que não chegaria a igreja matriz sem essa parada.
Tomo um bom banho em um dos hotéis da cidade e vou a procura do papelão, que se tornou imprescidivel para uma boa noite de sono. Encontro um local super bacana para dormir, um espaço coberto, ao lado de um bar. O estabelecimento não está funcionando, provavelmente por ser segunda feira. Procuro o dono do bar na casa ao lado, mas eles não estão. Estou exausto e, ao contrário do que sempre faço, desta vez monto a barraca sem conversar com ninguém da cidade. Desmaio no colchonete e pego logo no sono. Pouco depois, acordo com o som do motor de um carro. São os donos do bar, que gentilmente, me deixam dormir no local, sem maiores problemas. Peço a eles para montar a minha barraca amanhã também, dizendo que irei descansar um dia na caminhada. Eles dizem que não tem problema nenhum, dizendo que eu poderia dormir depois que o bar fechasse.
Gostei de Cruzília. Pessoas atenciosas, gentis, e não se incomodaram muito com a minha presença. Não que eu queira ser bajulado e ter tratamento especial, só quero mesmo ser tratado como uma pessoa de bem.
Gostei tanto de Cruzília que escolhi essa cidade para ser o local da minha primeira parada para descansar nesta viagem. Estou no limite mesmo, foram treze dias de caminhada, sem parar, e não sou um atleta, e também não sou mais um garoto. Acho que estou bem para a minha idade, creio que já devo ter percorrido algo em torno de 400km.
Opa parceiro, sou eu de goias de novo, essa tendinite na canela é muito ruim mesmo, vc ta fazendo alongamento ? panturrilha, posterior e inferior da coxa? é bom fazer antes e depois das caminhadas.
ResponderExcluiruma dica é vc comprar uma rapadura, que é muito bom pra ir repondo a energia durante a caminhada.
e quando voce estiver com pouca agua, quando for beber beba pouco e antes de engolir, deixa ela na boca por uns 15~20 segundos. isso foi uma dica que um sargento nos deu, e é bom msm. ei vc encontrou gabirobas por ai?, na beira das estradas, aqui em goias tem muito.
falou!, ate+, vai com Deus!
Valeu por visitar o blog. Até que estou algo energético, a granola tem açucar mascavo e quebra um galho danado, por que é bom para o intestino, esse negócio de ficar alimentando fora de hora e tudo mais, complica um pouco o funcionamento do intestino. Até que faço um pouco de alongamento, é que forcei um pouco no início, com pressa de chegar ao final, mas agora estou curtindo mais o caminho e esquecendo o final. O grande barato do caminho é o caminho, e não o objetivo de se chegar ao destino. Acho que gabirobas deve ter outro nome aqui em Minas, eu sou meio cabreiro na hora de comer coisas que não conheço. Fique com Deus também.
ExcluirSimplesmente um Show o seu relato.
ResponderExcluirVc é o cara.
Marioluc
Obrigado Mario pela visita ao blog. Depois irei ao site dos mochileiros, para ver o seu relato sobre o seu caminho na estrada real, é legal ver como as outras pessoas passaram pelo mesmo caminho que nós. Fico curioso para saber o que de bom aconteceu, os perrengues, etc. E as fotos também, é claro.
ExcluirMuito legal teus relatos, teu blog. Comecei a ler hoje de manhã e me tornei um admirador seu. Quando adolescente, tive um amigo esquizofrênico, no grupo de amigos que andávamos. Nunca o descriminamos, sabíamos da doença dele e ele sempre foi muito legal. Era um cara super inteligente, sabia tudo de metal, mas um dia ele desapareceu do nosso convívio. Soubemos depois que ele tinha surtado feio e sido internado e assim nunca mais soubemos nada dele, infelizmente. Achei aquele imagem da piramide, muito intrigante, mesmo! Será mesmo uma pirâmide? O que se sabe a respeito? Manda mais dados, ok? Um abraço e tudo de bom pra você Julio.
ResponderExcluirObrigado por visitar o blog. Seu amigo também gostava de metal, ou você estava falando do elemento químico? Eu também gosto muito de metal, o som das guitarras, mas agora estou mais eclético, tem horas que dá vontade de ouvir um som mais tranquilo. Aquele negócio em formato de pirâmide também me deixou curioso, pena que tinha cerca, deu vontade de pular, mas sabe como é né? Depois pode aparecer um cara com espingarda atrás da gente e correr com o peso nas costas é complicado. Mas deu para ver que tinha tipo uma bandeira nela, nem imagino o que pode ser.
ExcluirAbraços.