28 de maio de 2013
Vila do Embau-Lorena-Guaratinguetá-"Aparecida do Norte"
Não encontrei nenhum lugar para tomar um bom banho em Vila do Embau. Antes, há muitos anos atrás(muitos mesmo!), confesso que conseguia dormir sem tomar banho, era muito desleixado com a higiene(hoje sou só um pouco), mas atualmente não consigo pegar no sono sem entrar no chuveiro. Também não consegui papelão, e a noite foi das mais frias até hoje.
Como disse, no post anterior, o único lugar coberto que encontrei para dormir foi um ponto de ônibus. Às cinco e meia da tarde já havia escurecido, como se fosse de noite. Às seis, já estava descansando minhas canelas em minha barraca.
Por volta das sete, três caras foram ao ponto de ônibus para acenderem um baseado. Estavam ouvindo funk, para piorar a situação. Começaram a puxar conversa comigo, me ofereceram a erva danada, e eu, dentro de minha barraca, recusei. Acho que já disse isso antes, não preciso de drogas, não preciso de artifícios par fugir da realidade. Acho que vivo a minha realidade dentro da realidade desse mundo. Uma vez, me disseram que, se tomasse determinado medicamento, eu iria ficar mais dentro da realidade. Apenas respondi, perguntando:
- E quem disse que eu quero entrar nessa realidade deste mundo? Talvez a minha realidade seja melhor de se viver.
Voltando a viagem, os caras demoraram para ir embora. Falaram sobre drogas, sobre a barraca, e outras coisas mais. Confesso que cheguei a ficar um pouco receoso, afinal, era a minha primeira noite em terras paulistas. Pensei que os caras estavam procurando saber quem estava na barraca, para voltarem mais tarde e me roubarem.
Por precaução, não tomei o meu "pan de cada dia" e por isso não consegui dormir. Acordei cansado, mas animado, pelo fato da chuva ter dado uma trégua.
O começo do caminho para Guaratinguetá é uma trilha, que estava bem complicada de se percorrida, devido a chuva. Ainda mais por que estava de chinelo, que a todo momento ficava grudado na lama, além de ficar muito pesado com o barro que ficava impregnado na sola.
muita lama no caminho |
chegada em Lorena |
Depois da trilha, asfalto e estrada de terra até Lorena. A estrada de terra é boa, mas com muito movimento de carros e principalmente de caminhões. Tem muitas fazendas na região e quase todo o trecho inicial tem cerca dos dois lados. Foi difícil achar um local mais reservado para fazer a necessidade básica do dia a dia. Tive que contar com a sorte também para não ser pego no flagrante.
Como não havia dormido bem, a caminhada não rendeu muito. Tive que parar várias vezes para descansar, e, como Guaratinguetá está a 38km de Vila do Embau, decidi percorrer apenas 20km e parar na cidade de Lorena.
cidade de Cachoeira Paulista, a construção maior é o templo da Canção Nova |
Quando estava prestes a chegar ao centro de Lorena, ela, a temida chuva, apareceu novamente na parte da tarde, como no dia anterior. Consegui pegar um ônibus até o centro da cidade, e, como não havia nenhum albergue na cidade, resolvi pegar um outro ônibus até Guaratinguetá. Passagem baratinha, cheguei a me espantar com o preço:2,90 reais! Afinal, eu estava me deslocando de um município para outro, e a distância era considerável, e paguei o mesmo que teria que pagar se me deslocasse de um bairro para outro em Belo Horizonte.
Em Guará, fiz um bom lanche na rodoviária, já que não havia almoçado. Coxinha, empada, torta de chocolate e dois pedaçoes de pudim de leite de sobremesa. Já que o tempo não estava ajudando, pelo menos tinha que tirar a barriga de miséria né? O jeito era comer e comer mesmo. Após me informar, fiquei sabendo que somente na cidade vizinha de Aparecida é que havia um albergue. Fiquei mais surpreso ainda com o preço dessa passagem:2,25 reais! Nunca havia cruzado três municípios em um espaço de tempo tão curto em toda a minha vida.
A essa altura, já havia perdido o receio inicial de estar em São Paulo. Todas as pessoas que pedi informação foram muito atenciosas , principalmente as paulistas, que, a princípio, pareceram ser bem mais extrovertidas do que as mineiras. As mineiras são mais fechadas para com os estranhos, acho que por pensarem que os homens irão pensar que elas estão dando bola para eles, simplesmente por conversarem ou olharem para eles, mesmo sendo estranhos. Bem, não sei se deu para entender o meu raciocínio, mas acho que é mais ou menos isso. Conversei com algumas paulistas e elas foram atenciosas, algumas até sorridentes, bem legais mesmo, mas não é por causa disso que achei que estavam a fim de mim. É a cultura de cada estado mesmo. Mas que existe isso entre homens e mulheres existe, já aconteceu de, estar a fim de fazer amizade com algumas mulheres, e as mesmas pensarem que eu estava a fim delas. É uma relação um pouco complicada. Por isso, as mulheres não devem sentir ciúmes do namorado ou marido quando eles ficam muito tempo com os amigos, jogando conversa fora ou assistindo futebol, isso é coisa de homem mesmo, sentimos mais a vontade de falar palavrão, essas coisas. O inverso também acontece, os homens não devem se preocupar se as mulheres ficam a tarde inteira no cabelereiro, conversando com as amigas, é o tipo de conversa que só é feito entre mulheres mesmo. Bem, chega de falar sobre o comportamente humano e retomemos o assunto do post, que é a viagem. Dicas de relacionamento eu não sou bom, minha vida amorosa não tem sido das melhores. rsrsrs
falta pouco... |
O tempo estava muito fechado, muita chuva mesmo. E parecia que não iria melhorar tão cedo. Estou pensando seriamente em abortar a viagem, pois não tem como subir e descer as trilhas com a terra molhada, e ainda mais de chinelo. Falta pouco para o final, eu sei, mas caminhar nestas condições levará muito tempo do que em condições normais, já que a maior parte do caminho é feito em estrada de terra. Não sei o que fazer, o jeito é esperar até amanhã para ver se o tempo melhora.
Foi isso basicamente que pensei e refleti durante a "viagem" entre Guará e Aparecida, que durou uns quinze minutos. Estava tão preocupado e desanimado com o tempo que só me toquei que Aparecida era a cidade de Aparecida do Norte quando avistei a Basílica, já perto do ponto final. Muito linda e imponente a construção, e o espaço em torno dela é bem grande, tem até um parque de diversões ao lado. Várias lojas de artigos religiosos tomam conta das proximidades da basílica.
Descendo no ponto final, fico sabendo que o albergue de Aparecida fica um pouco longe. Estava meio exausto, mas, na chuva sempre se arruma forças para caminhar.
Depois de um bom tempo andando, chego ao albergue. Tomo um banho, faço a minha barba. Meus pés estão doendo um pouco, mas a minha maior preocupação é sobre o que fazer: continuar o caminho, debaixo de chuva, com frio e nas estradas de terra, ou parar e reconhecer que não vale a pena tanto sacrifício por nada? Ou será que Deus, de uma forma indireta, me levou até Aparecida do Norte, para conhecer a basílica que sempre quis visitar quando a via pela TV?
-Obs. No título do post, coloquei o nome da cidade entre aspas, pois ela não está incluída no caminho da estrada real.
-Obs. No título do post, coloquei o nome da cidade entre aspas, pois ela não está incluída no caminho da estrada real.
E ai Júlio,
ResponderExcluirVc foi forte mesmo,em camarada.....
sozinho e ainda dormindo em barraca, não é pra qualquer um fazer esse trecho todo.
Parabéns mesmo!
Marioluc
Estou aguardando o final da viagem....
abs
Verdade Mario, muitas dificuldades mesmo, uma aventura. E acho que o que me deu forças é o desafio mesmo, é legal chegar no final do dia e ver que vencemos mais essa etapa. O final da viagem é mesmo complicado, deu para ver na planilha, por isso que dei uma maneirada nos últimos trechos. Obrigado pela visita ao blog.
ExcluirOi Júlio. Acho que este é meu terceiro comentário aqui. Fiz questão de passar aqui pq acho que essa é a minha ultima visita ao seu blog. Quero te desejar muita paz e energias boas nessa sua trajetoria e que a cada dia sua vida se torne mais feliz e prazerosa. Você é um vencedor! Que Deus te proteja sempre! Tenho muita admiração por vc e desejo de coração somente coisas boas em seu caminho. Tenho depressão e por diversos motivos não quero mais viver. A vida sinceramente já não faz mais sentido e nem me traz nenhuma paz. Sendo assim, farei o que já deveria ter feito a muito tempo. Descansar disso tudo aqui! Fica em paz JUlinho! Desculpa a intimidade, mas é como se vc um irmão. Deus te abençoe!
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ExcluirOlá
ExcluirEstava relendo as postagens para matar a saudade da estrada real e vi o seu comentário.
Por favor, me responda como está.
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memoriasdeumesquizofrenico555@gmail.com