quinta-feira, 11 de abril de 2019

20º dia pedalanças-Segunda etapa- São Mateus à Marataízes



Carnaval em Barra do Jucu
    A noite foi em frente ao castelo foi relativamente  tranquila. Deu para dormir bem. O carnaval de Barra do Jucu não é daqueles que varam a madrugada e terminam por volta das seis da manhã. Acredito que por volta das duas da manhã o som já tinha terminado, depois do barulho dos carros indo embora o silêncio predominou, só um ou outro funkeiro passando com o som no volume máximo.
     Na madrugada uma simpática largatixa me fez companhia na parte de cima da barraca, à procura de mosquitos para se alimentar. 
   Por causa do feriado de carnaval meu pagamento só sairá no dia 08 de março. Minha grana está acabando e terei que me virar aqui no litoral do Espírito Santo. Estava pensando em ficar esses dias em São Mateus, mas em Barra do Jucu o clima está bem mais agradável. Confesso que nunca havia sentido calor parecido ao de São Mateus. 
   Apesar do carnaval em Barra do Jucu não ser muito agitado, é difícil encontrar um cantinho com sombra e tranquilo para ficar na minha. Fico perambulando pela cidade, até encontrar uma pracinha que fica atrás de uma pequena igreja. 
     Um argentino se aproximou e começamos a conversar. Ele também viaja por aí de bike e já fez muitas pedalalanças pelo Brasil. Disse que agora pretende viajar de barco pelo mundo. Depois nos despedimos e ele ficou de arrumar um rango para mim na parte da tarde. 
    Depois tive que arrumar um esquema em Barra do Jucu para lavar minhas roupas. É como se fosse um desafio esse tipo de viagem. Não um desafio fisicamente falando, pois isso posso administrar, não tenho pressa de chegar em lugar nenhum e vou pedalando no meu ritmo. Tem dia que pedalo bem, outros dias já nem tanto. Sair por aí  com a bike e a barraca no bagageiro é um desafio mental e psicológico para um  fóbico social. Não é tão fácil assim para uma pessoa introvertida chegar em locais desconhecidos e ter meio que se apresentar para as pessoas para não causar estranheza. 
   Voltando a minha estadia em Barra do Jucu,  antes de lavar minhas roupas tomei um bom banho de mar na praia, em um local mais afastado da muvuca. O mar está um pouco agitado. Essa parte que da praia que fico é um pouco perigosa. As ondas são mais fortes e quando elas batem e voltam da praia corremos o risco de sermos levados pela corrente marítima. Cheguei a levar um tombo quando uma onda me pegou quando já estava correndo dela. Umas meninas que estavam vendo riram pra caramba
     Depois da praia, lavar roupa. Mas está difícil encontrar local  na pequena Barra do Jucu. Boa parte dos moradores da cidade não gostam dos turistas de baixa renda. Para eles todo mundo que vai para Barra do Jucu e não tem grana suficiente para gastar na cidade é maconheiro. Então nem pensar em ajuda dos Barrajuquenses. Claro que existem pessoas legais e receptivas neste lugar. Conheci um ciclista que me deu uma graxa super boa que custa por volta de 20 reais.

    O jeito foi ir no cemitério e pedir para o vigia a permissão para usar o tanque que tem lá perto das covas. Isso mesmo. Nas pedalanças não temos e não podemos ficar escolhendo lugar para lavar roupas. Pintou a chance é lavar e pronto. Mas, além de lavar minhas roupas que estão bem sujas tenho a infeliz ideia de tomar uma ducha, mas o vigia não estava no cemitério. Mas resolvi tomar um banho bem rápido. 
     Então abro a torneira e deixo a água morna cair e tirar todo o sal do mar que estava impregnado em meu corpo. Como é bom um banho, só quem está nesse tipo de aventura sabe o que estou dizendo. Mas, no meio da ducha, quando estou todo ensaboado, aparece o vigia, gritando:
    - “Ô” seu maluco, saí daí agora por que daqui a pouco vai ter velório!!!
    Fiquei por alguns segundos estático, não estava esperando por aquela situação. Saí todo ensaboado do banheiro, peguei minhas roupas molhadas e a bike e só haviam umas três pessoas na porta do cemitério. Mas foi bem por pouco mesmo, dois quarteirões adiante estavam chegando a galera de ônibus e uns 7 carros no cortejo fúnebre. 
   Fiquei um pouco preocupado com o vigia, pensando que talvez o pudessem demiti-lo, por ter permitido o maluco aqui usar o banheiro para tomar uma ducha. 
    O restante do dia passei olhando o mar, finalmente havia encontrado um lugar na cidade com pouco movimento e uma vista bem legal para o oceano. De noite montei a barraca no mesmo local, de frente para o castelo. 


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