terça-feira, 19 de março de 2019

10º dia- Pedalanças-Belo Horizonte-MG-São Mateus-ES

Nova Venécia - São Mateus

    Passei boa parte da noite anterior assistindo jogo no ginásio coberto da cidade. Este tem sido o meu programa noturno nas cidades em que monto a minha barraca. Afinal, tenho que descansar para a pedalança do dia seguinte. E é o meu jeito mesmo, de ficar mais no meu canto, não sou muito de sair por aí nas cidades. Confesso que a mania de perseguição quando estou dentro das cidades aumenta consideravelmente. 
    Após o banho, com alguma dificuldade consigo achar um posto de gasolina que me deixe passar a noite. Posto de gasolina em Br sempre deixa a gente dormir, já posto que fica dentro da cidade nem sempre ajuda nesta questão. 
    Acordo por volta das cinco e meia da manhã, o sol que tem feito nesse horário na região é como se fosse o sol das nove da manhã em Belo Horizonte. Não dormi muito bem, acho que foi por que a bicicleta ficou amarrada em uma árvore e não presa com um cadeado como sempre faço. Não encontrei uma barra de ferro ou grade para prendê-la. 
    Mas depois do café crio um ânimo extra e consigo pedalar em um bom ritmo. Por sorte essa reta final é feita em boa parte em terreno plano, segundo informações de alguns ciclistas que encontro pelo caminho. 
    Como é domingo, encontro várias pessoas pedalando em suas bikes, a maioria novas e com aro 29. 
    Serão 76km até a cidade de São Mateus e procuro andar o mais rápido possível, pois o calor já está forte na manhã, o que é uma quase certeza de que na parte da tarde o sol estará de rachar a cuca. 

    Paro em uma casinha simples para beber água, e a dona me oferece um saboroso cafezinho e um bolo que estava uma delícia. E, claro, que trocamos um dedo de prosa. As pessoas mais simples sempre são mais atenciosas e prestativas nesse tipo de viagem. Esse contato com os moradores das cidades é uma enorme injeção de ânimo para prosseguir o caminho. 
as pessoas mais humildes são mais atenciosas com os viajantes

     Apesar do calor, consigo manter o bom ritmo das últimas caminhadas. Consigo pedalar 43 km em três horas e meia. Por volta das onze horas paro em uma pequena cidade para descansar e aproveitar para almoçar. Não quero repetir o erro do dia anterior de ter pedalado sem me informar sobre o trajeto e ir almoçar depois das duas horas da tarde. 
    Descanso em um posto de gasolina e almoço por volta do meio dia. O sol está de rachar e o jeito é esperar mais um pouquinho para cair na estrada novamente. Hoje está sendo meu dia de sorte, depois do delicioso bolo com cafezinho na parte da manhã, o funcionário da sorveteria ao me ver descansando me traz um delicioso sorvete de pêssego. Era um sorvete caseiro, com leite mesmo, muito melhor e mais gostoso do que o da kibon. 
retas muito longas entediam um pouco... 
    Não sei se foi o gosto ou o efeito do açúcar no sangue, mas fico mais animado e decido partir para as pedalanças. São duas horas da tarde e o sol deu uma pequena amenizada na quentura. 
     Encho minhas garrafinhas de água e tenho que tomá-las em menos de vinte minutos, pois depois disso acabam ficando quentes demais para o consumo. Por sorte esse trecho do caminho tem muitas casas para abastecer de água as garrafinhas. 
    Vou seguindo sem pressa, já não tenho aquela disposição para pedalar como nos primeiros dias. Os moradores da região estão dizendo que a temperatura está na faixa dos 37ºC, mas a sensação térmica é de quase 50°C, pois estou sentindo bem mais calor nessa região do que quando estava sob o s 45°C da cidade de Mantena. 
    Por volta das cinco da tarde, mantendo o ritmo, consigo finalmente chegar em São Mateus. Não fico eufórico por ter conseguido chegar ao destino final. Aprendi nas minhas andanças que o grande barato do caminho é o próprio caminho, e não o final. 
    Mas fico feliz por ter conseguido completar com sucesso mais este desafio. Foram dez dias, 780km sem acidentes e sem problemas mais sérios. Fico feliz por estar com saúde física e mental(mais ou menos né?). No ano de 2001 tive uma experiência de quase morte,devido aos surtos psicóticos que tive. Hoje em dia, qualquer trajeto que faça de bicicleta é motivo de comemorar.
Fico feliz  mais ainda por estar em paz comigo mesmo e por estar com a consciência tranquila. Seria ótimo se tivesse grana para viajar de ônibus, pagar um hotel, mas ter saúde e disposição para enfrentar uma viagem como essas não tem preço. 
chegada em São Mateus

6 comentários:

  1. Você tem razão, não tem preço a saúde e disposição para viajar desta maneira. Não é para qualquer um. Parabéns pelo jeito prazeroso e saudável de levar a vida, e aibda nos favorecer com suas histórias sempre tão bem narradas. Abração!

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    1. Eu que agradeço a sua participação e por acompanhar o blog. Ainda tem muitos quilômetros para narrar até voltar para Belo Horizonte

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    1. Obrigado. E ainda vem mais, acho que já pedalei até o dia de hoje cerca de 1700km e até a volta para BH acho que vai dar uns 3000

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  3. Você é um exemplo, um vencedor para nós, enfrentar esse verão que foi muito quente. Agora inicia o outono, talvez na volta pegue temperaturas mais amenas. Parabéns por vê o lado bom da saúde física e mental. Bom ve que tem gente simples e gente boa ainda nesse mundo. Torcendo por você Julio não deixe de postar. Tudo de bom!!

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    1. Obrigado. Sim, agora vem o outono, e em algumas cidades do interior faz um friozinho gostoso. E sem chuvas também, o que ajuda muito.

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