segunda-feira, 3 de junho de 2019

46º dia pedalanças-4ª etapa- Estrada Real Caminho dos Diamantes


Cocais-Bom Jesus do Amparo-Ipoema
      
  Até que dormi bem na entrada da cachoeira em Cocais, apesar de não ter tomado banho. O único som que ouvi naquela noite foi o da natureza: grilos, sapos e o ronco do cachorro que ficava tomando conta do lugar. Tinha também um inseto do lado de fora da barraca que emitia um som muito estranho, parecendo o ruído daquelas armas de choque da polícia. Sei disso por que nas manifestações da copa do mundo em Belo Horizonte os homens da lei tiveram que usá-las e muito para conter os baderneiros infiltrados entre os manifestantes.
    Desci os 5km até o centro do distrito com aquela moleza de quem ainda não havia tomado o café da manhã. Em Cocais só havia uma padaria aberta e funcionando naquele domingo, mas valeu a pena a procura, pois o pãozinho com manteiga e o cafezinho estavam uma delícia. 
    Desta vez foi fácil encontrar o primeiro marco do caminho, era bem pertinho da padaria. Muito bom começar o dia sem aquele stress de ter que ficar procurando e perguntando por marco da estrada real.  E segui então para Bom Jesus do Amparo em uma estrada de terra muito boa, ao contrário de ontem. O clima estava bom para pedalar, um pouco nublado, mas sem perspectivas de chuvas. E ainda havia muitos eucaliptos para proporcionar uma generosa sombra. 
    No meio percurso encontrei um ciclista que veio de São Paulo somente para fazer o caminho da estrada real. Pela quantidade de cabelos brancos que tinha o cara devia ter uns 60 anos. Mas, apesar da idade pedalava muito bem e não demonstrava sinais de cansaço nem nas subidas. Conversamos sobre vários assuntos, além do caminho: budismo, bicicletas, saúde mental, planos de saúde. Ele também estava indo para Diamantina. 
    O paulista poderia me ultrapassar se quisesse, mas fomos até Bom Jesus do Amparo juntos, onde parei para almoçar. Ele resolveu continuar o caminho, a bike dele era bem melhor do que a minha e ele quase não levava bagagem. Provavelmente devia estar dormindo em hotéis. 
    
Bom Jesus do Amparo
    O rango estava uma delícia. Comida caseira e podia pegar à vontade, claro que menos a carne. Enchi o prato, apesar de ter que ainda pedalar um bocado naquele domingo de sol. A culinária faz parte da estrada real. Viajar pelo interior de Minas sem apreciar as delícias que as cozinheiras mineiras fazem é como ir ao Rio de Janeiro e não visitar o Cristo Redentor. 
 Depois um breve descanso na pracinha de Bom Jesus do Amparo  sigo para Ipoema pedalando 14km em uma estrada de asfalto boa de se percorrer, sem muita serra. Como ontem não havia tomado banho, resolvi então desviar um pouco do caminho da estrada real e ir até à uma cachoeira em Ipoema. E também estava precisando lavar minhas roupas. 
    Era umas três horas da tarde. O caminho para a cachoeira era em uma estrada de terra com alguns buracos. Como era domingo muitas pessoas já estavam voltando do banho. Queria chegar mais tarde mesmo, para ficar mais à vontade. 

    Subi muita serra e comi muita poeira quando passava carro, mas valeu a pena. A cachoeira é muito bonita e grande, com várias quedas. Ainda haviam muitas pessoas tomando banho e fazendo churrasco, mas espaço era o que não faltava. Achei um cantinho e tomei aquele banho e lavei minhas roupas. 
     Depois, apenas esperei o tempo passar, vendo os turistas irem embora e o pôr do sol naquele dia que foi bem legal, sem muitos perrengues. 
      Assim que todos se foram procurei um lugar para montar a minha barraca. Por sorte encontrei uma fogueira com algumas brasas. Peguei algumas folhas de papel e um pouco de madeira e reacendi o fogo. Não estava fazendo frio, apenas queria brincar de acampamento. 
     Depois das sete horas escuridão quase que total. Luz apenas dos faróis dos poucos carros que passavam na ponte. E as estrelas do céu, é claro. 
na paz, curtindo as obras do criador


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