domingo, 16 de junho de 2019

51º dia pedalanças- 4ª etapa- Estrada Real Caminho dos Diamantes


Tapera-Serro-MG
    A noite na barraquinha de quermesse da igreja não foi das melhores. Foi bem tranquila, mas não dormi direito por que o terreno era bem inclinado e não consegui relaxar a musculatura. Virava daqui, virada dali e não conseguia achar uma posição para ficar de boa e pegar no sono. 
    Acordei bem detonado. Para piorar ainda mais a situação, a única padaria da cidade ficava na entrada e ainda por cima tinha que subir um morrão daqueles bem típicos da região. E a única coisa que dá uma amenizada nessas manhãs de estrada real em que acordo detonado é um belo café da manhã. Mas, quando cheguei na padaria a decepção: só tinha pãozinho de sal e café... 
    Não que eu seja uma pessoa exigente, adoro um pãozinho quentinho e um bom cafezinho, como todo bom mineiro. É que quando acordo cansado e não tão disposto, tenho que consumir bastante chocolate para aumentar os meus níveis de serotonina e elevar o bom humor e a disposição. Então como bolo de chocolate com cenoura, chocolate, brigadeiro e, claro, tomo toddynho. Âs vezes exagero nessa comilança de chocolate misturada com café e fico a mil por hora, e um pouquinho nervoso e agitado. 
    Depois do café parto para o distrito de Itapanhoacanga subindo uma serra das brabas. O jeito foi empurrar a bike. Acho que quase metade desse caminho dos diamantes nos últimos dias tem sido a pé, empurrando a magrela. Ou você está subindo ou estão descendo. 
     O calor já aparecendo e aquela sofrência danada fazem a gente pensar que se fizesse o caminho inverso seria melhor com mais descidas. Na verdade é mais ou menos equilibrado, até o site da estrada real informa o quanto de subida e descida tem cada percurso. 
    Mas depois de alguns quilômetros de subida, a recompensa: a serra do Espinhaço!

         O lindo visual me fez ficar de bom humor naturalmente e até comecei a dar uns gritos de alegria para ouvir o eco nos montes. Quando estou fazendo esse tipo de viagem solto uns gritos meio loucos como esses que soltei na serra do Espinhaço. Acho que é para extravasar um pouco, pois geralmente sou um pacato cidadão de pouca conversa.
    Logo apareceu um cara com uma moto e me ofereceu maconha. Claro que recusei, não preciso de drogas para ter momentos de felicidade. Ser feliz acho um pouco difícil de ser nesse mundo em que vivemos. O cara ainda insistiu e tive que dar um não mais sonoro e com aquela encarada....
    Não sou moralista, acho que cada um pode fazer o que quiser de sua vida, desde que não prejudique a do próximo. E esses momentos com a natureza gosto de curtir sozinho. Aliás, quase tudo na minha vida tem sido sozinho depois que comecei a ter os surtos psicóticos. 
     Essas pedalanças acredito que estão sendo, além de uma aventura, a necessidade de me isolar por um bom tempo. Não tenho condições de alugar um barracão, sempre moro alugando quartos e tendo que conviver com várias pessoas, algumas legais e outras nem tanto...
    Depois das fotos da serra do Espinhaço sigo o caminho, que agora tem boas descidas. Chego em Itapanhoacanga por volta das onze horas da manhã. Fui logo almoçando por que o tempo estava nublado e ainda pretendia chegar no Serro ainda hoje. 
    Conheci a Lana, que estava andando de moto na cidade e começamos a conversar sobre trilhas, viagens, aventuras, etc. Ela também gosta de acampar. 
    
    Depois do almoço, sigo a caminhada, apesar da forte ventania indicando que iria cair uma chuva na região. Aliás, do alto da serra dava para ver que já estava chovendo em várias regiões. Mas após essas pedalanças acabei perdendo o medo da chuva. E continuei a pedalar. Aos poucos os pingos foram engrossando e começou a cair uma grande tempestade. 
    Para piorar, o caminho que a Lana havia me indicado era o caminho mais fácil de se seguir, e não o caminho da estrada real, pois não estava avistando os marcos. O jeito foi continuar, ficar perdido no meio da chuva era o que menos precisava naquele momento.
    Muita lama e a todo momento a corrente da bike ficava meio enrolada e tinha que parar para dar uma limpada no sistema de marchas da magrela. E tinha que pedalar com muito cuidado, pois a estrada de terra é bem movimentada. 

         Aquela estrada de terra parecia não acabar nunca. Por volta das quatro horas da tarde é que finalmente encontro o asfalto. Paro em um vilarejo e encontro um tanque na frente de um galpão. Nenhuma alma viva nas redondezas para pedir permissão para usar a água. O jeito foi lavar a bike assim mesmo, pois mal estava conseguindo pedalar por causa dos problemas na corrente e nas marchas. 
   Dei uma boa limpeza e também lubrifiquei a corrente e as catracas. A bike voltou a andar normalmente. Sigo o caminho até encontrar um riozinho às margens da BR e aproveito para tomar um banho para tirar todo aquele barro do meu corpo. E, claro que também lavo as roupas, apesar do horário avançado. 
    

     A sensação após o banho é que havia tirado uns dez quilos do meu corpo. Por causa dos perrengues causados pelas chuvas, chego ao Serro por volta das sete horas da noite. 
    Serro é uma cidade com muitos morros e muitas ruas com calçamento de pedras, muito difícil andar de bike naquele lugar. Acho que aquelas pedras fazem parte do patrimônio histórico e não podem ser retiradas dali. Mas pelo menos poderiam dar uma arrumada né?
    Depois de muito subir finalmente chego ao centro da cidade, que é bem escuro. Tomo um lanche e pego papelão no supermercado. O pessoal do posto de gasolina foi gentil comigo e me deixou montar a minha barraca. 
    Tenho que descansar bastante, amanhã é o último dia e terei que pedalar 66km caso queira chegar em Diamantina. E ainda tenho que contar com o tempo, espero que não chova como hoje. 
chegando no Serro 

3 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Grande Esquizo! A essa altura já deve ter concluído toda a pedalança e todos os quatro caminhos da Estrada Real! Parabéns! Foi muito bom curtir TODOS os relatos dessa super aventura aqui no blog. Aguardo o capítulo final da chegada em Diamantina. De outro apaixonado pela ER! Abraço

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  3. Obrigado por acompanhar a pedalança.
    Sim já conclui a quarta etapa dessa viagem. Esqueci de colocar no papel o relato do último dia, mas está tudo aqui gravado e vou postar aqui no blog o relato do último dia que não foi nada fácil. Mas claro que valeu a pena.
    E muito feliz de ter completado os quatro caminhos da estrada real, estava com isso na minha cabeça desde 2013.

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