segunda-feira, 20 de maio de 2019

39º dia pedalanças- 4ª etapa- Estrada Real



 
 Santos Dumont-Antônio Carlos-Barbacena
    Muito frio na madrugada na entrada de Santos Dumont. Por precaução havia comprado um par de meias para essas ocasiões. As outras meias que tinha estavam na mesma sacola que estava o tênis que foi roubado. Já sabia por experiência própria que algumas cidades do interior de Minas Gerais costumam fazer frio em outras estações do ano sem ser o inverno. 
    Sinto algumas dores musculares, principalmente na nuca e nas costas, algo que não havia sentido antes nesta minha primeira pedalança. Andar em estrada de terra exige muito esforço físico. 
    Vou para a lanchonete do posto de gasolina. Pergunto o preço do pãozinho com manteiga e a balconista me diz que custa quatro reais e noventa centavos!!!
      - É um pão especial...- ela me diz ao me ver saindo apressadamente da lanchonete.... nem se tivesse recheado do melhor chocolate do mundo iria comprar esse tal de pão com manteiga especial.
    Pedalei cerca de 3km e achei um outro posto com pão com preço acessível. E, claro um pedaço de queijo com um cafezinho. Na entrada de Santos Dumont tem uma réplica bacana do 14 bis. Fiquei um bom tempo contemplando aquele avião e imaginando como ele poderia ter saído do chão e voado, mesmo que por poucos metros... Provavelmente Santos Dumont deve ter sido chamado de louco na época quando afirmou que iria conseguir voar com aquele negócio.
    Vou em direção ao museu do inventor do avião. Passo pelo centro da cidade, que tem uma pequena réplica da torre Eiffel. 
    
    
    O museu do Santos Dumont fica 16km distantes do centro da cidade. Domingo de manhã, um solzinho bacana para aquecer o suficiente sem nos deixar com aquela sede. Boa parte desses 16km é asfalto, e a parte de estrada de terra tem alguns buracos, mas dá para ir sem muita sofrência. 
    O museu é bem bacana. Além da casa onde Santos Dumont viveu tem outros lugares, que não visitei por causa do tempo. A casa dele é bem bonita e simpática. O museu é um lugar bem agradável de se visitar, com muita área verde. 


    O museu



     Encontrei somente duas pessoas no museu: um soldado que era porteiro e segurança ao mesmo tempo e apenas um visitante. Depois da visita sigo o caminho por uma estrada de terra que em alguns trechos tem muito barro. Tem que ter muita paciência para atravessar aquele lamaçal todo, sendo na maioria das vezes empurrando a bike, para não correr o risco de levar um tombo e me sujar todo.
    Por falar em se sujar, encontro uma biquinha d'água e, claro, aproveito para tomar banho, apesar de ser por volta do meio dia. Estrada real é isso, não sabemos como irá ser o dia, se iremos encontrar lugar bacana para tomar banho e montar a barraca no final da pedalada. Então é melhor tomar banho na primeira oportunidade que aparecer. 



Seguindo em frente
     Continuo a pedalança por aquela estrada de terra que tem pontos bons e outros cheios de lama. Por volta de uma e meia da tarde chego ao povoado dos Paivas. Estou com aquela fome, mas, para meu desespero o local não tem nenhum restaurante aberto. O jeito foi ir pedindo de casa em casa para me venderem um prato de comida. Apesar de ser hora do almoço, as primeiras pessoas que pedi me disseram que não tinha rango em suas casas. Por serem pessoas simples e humildes, sinto que eles negaram com um pouco de receio, imaginando que eu estivesse querendo comida chique...
    Mas, depois de alguma insistência consigo almoçar em uma casa na pracinha da igreja. Comida simples e boa, comi o prato todo. Só não comi mais para não atrapalhar a pedalança na parte da tarde.
    

    Se de manhã o caminho foi tranquilo e sereno, o mesmo não posso dizer da parte da tarde. Muita subida íngreme em uma estrada de terra com muitas pedras pelo caminho. Acho que caminhei cerca de 4km de serra brava, o que aumentou ainda mais as minhas dores nas costas e na nuca. Encontrei algumas casas abandonadas pelo caminho, mas queria chegar na cidade de Antônio Carlos para assistir o jogo do meu time. 
    Apesar dos buracos e das pedras, sigo em bom ritmo depois da subida ter terminado e consigo chegar a tempo de ver boa parte do primeiro tempo ainda em um trailler na pequena e pacata cidade de Antônio Carlos. Lá 90% torce para os times do Rio de Janeiro. Tinha até alguns cachorros com a camisa do Flamengo.
    O trailler estava cheio de torcedores. Me sentei no meio deles na maior tranquilidade. Percebi que alguns me encaravam, como esperando que eu me apresentasse ou falasse alguma coisa. Sou  um cara caladão, mas, para quebrar o gelo, dei um pitaco sobre o time do Botafogo, que estava indo muito mal no campeonato carioca. E foi o suficiente para quebrar o gelo e começar a conversar com a galera sobre futebol, a minha viagem e tudo mais. Pessoal super gente boa até ofereceram alguma ajuda, que não aceitei pois iria viajar para Barbacena após o jogo. 
    Mesmo com a estrada escura resolvo seguir o caminho até Barbacena, distante cerca de 12km de Antônio Carlos. Era a quarta ou quinta vez que pedalo de noite, e a minha lanterna havia estragado...
     Essa região faz um pouquinho de frio. E vou pedalando apesar do cansaço que estava sentindo por ter subido aquela serra depois do almoço. Muito escura a estrada, mas vou pedalando com cuidado e em pouco tempo chego em Barbacena, que também não é muito bem iluminada. 
    Não consigo achar um local bacana para montar a barraca dentro da cidade, e então resolvo sair do centro e ir até a BR 040, para encontrar algum posto de gasolina. Mas esse dia parecia não terminar nunca, já deveria ser quase oito horas da noite e os postos de gasolina que havia encontrado não permitiam montar nenhum tipo de barraca. 
    Por volta das nove horas da noite encontro uma lanchonete que na entrada tem um toldo que poderia me proteger em caso de alguma eventual chuva. Espero ela fechar e monto a minha humilde residência, apesar de sentir falta de tomar um banho de noite. O banho que havia tomado na parte da tarde não ajudou muito, pois me sujei um pouco de lama. Sem contar o suor.



Nenhum comentário:

Postar um comentário