Itatiaia-Outro Preto-Mariana-Antônio Pereira
Tranquila noite na varanda do restaurante no vilarejo de Itatiaia. Não fez o frio que eu esperava, já que estava em um lugar muito alto. De manhã, comi mais bolo de milho e pão de queijo. Dava vontade de comer uns cinco bolos daquele. Era um bolo macio e molhadinho. O melhor bolo que comi até o momento nesta viagem.
Apesar de ter dormido bem, acordo meio songamonga, com aquela moleza. É o meu normal mesmo neste período do dia. Ainda mais agora que tive que voltar a tomar diazepan para pegar no sono. Não havia trazido o cloreto de magnésio que ajudava a dormir, com receio de que desse algum tipo de reação por ficar dentro da mochila.
Mas é o meu ritmo biológico mesmo. Pena que seja tão complicado de se andar à noite com a bike...
Antes de começar o caminho dou uma passada no centro do vilarejo de Itatiaia. É bem pequeno, tem uma rua principal que corta todo local. Muito sossego e tranquilidade, tem muitas pousadas lá.
Volto para a BR e sigo para Ouro Preto, que já havia visitado no caminho velho da estrada real. O asfalto é bom, mas esse trecho é um pouco complicado, quando você não está subindo está descendo.
Nas descidas sinto aquele friozinho, principalmente nos pés. Tive que colocar as meias que havia comprado, pois as que levei para a viagem estavam na sacola onde estava o tênis quando foi roubado.
Mas o caminho é muito bonito, cercado de verde por todos os lados, com pequenas cachoeiras. O final é bem gostoso, com uma descida bem longa. Quase sofri um acidente quando fui olhar para trás para ver se havia carro descendo bem na hora que teria que fazer uma curva. O freio já estava bem desgastado e não parei no momento da freada, o que ajudou um pouco, pois se o freio estivesse bom poderia ter derrapado e caído na ribanceira.
Apesar das serras, chego em Ouro Preto por volta das nove e meia da manhã. Muitos morros, ruas de pedra, difícil de se pedalar. Aliás não vi um ciclista naquela cidade. O centro é bem movimentado, com a galera que trabalha no comércio, os estudantes e os turistas. E algumas pessoas exibindo seus trabalhos artísticos também. O trânsito chega a ser um pouco caótico.
Vou para a lanhouse da cidade para, além de acessar a net e atualizar o blog, descansar as canelas nas confortáveis poltronas. A impressão é baratinha: 20 centavos. Já cheguei encontrar impressão por 1 real e noventa centavos em Juiz de Fora. Aproveito para imprimir todas as planilhas do caminho dos diamantes, pois o caminho novo termina em Ouro Preto.
Depois da lanhouse consigo encontrar um rango por 10 reais, que foi o mais barato que encontrei até hoje nesta viagem. Sigo então para Mariana, distante apenas 10km. Esse trecho é pura descida e devo ter demorado uns 30 minutos. Paro em um posto para dar uma calibrada nos pneus, mas, para meu azar, depois de um minuto pedalando o pneu esvazia completamente. Não havia furado, é que a bomba do posto de gasolina acabou dando problema na válvula do pneu da bike...
Aliás, até hoje não tive problemas com pneus furados. Somente no início da viagem tive um pneu rasgado e duas câmeras cortadas, pois o freio estava fora do lugar e raspando no pneu. E acabou rasgando quando fui descer a serra depois de Conceição do Mato Dentro.
Mas ter que trocar a câmera por causa da válvula seria bem chato. Dei uma mexida nela com palito de fósforo e depois enchi novamente em um outro posto. Para minha sorte não deu mais nenhum problema.
Sigo o caminho depois de Mariana, minha intenção era dormir em Santa Rita Durão, 30km de distância. Esse caminho da estrada real sofreu uma alteração, pois inicialmente passava pelo município de Bento Rodrigues antes do rompimento da barragem.
Depois da entrada para Bento Rodrigues uma baixa: a catraca de passar marcha da bike acabou estragando. Tive que empurrá-la por uns 3km até chegar na cidade de Antônio Pereira.
Pergunto na entrada da cidade onde havia um mecânico de bike. Sigo o caminho indicado por um morador e vou entrando em um bairro muito escuro. Eram umas sete horas da noite.
Na esquina um cara parado ficava observando a movimentação. Mais para frente alguns grupos de pessoas conversando. Funk rolando na maior altura.
De repente consigo ouvir um comentário:
- Ele não vai lá...
Sigo o caminho indicado, sem a menor preocupação, pensando que o comentário não era sobre a minha pessoa. Se não encontrasse um mecânico nas redondezas teria que desmontar a bike e colocá-la em um ônibus até a cidade mais próxima.
Vou entrando no bairro, que a cada quarteirão vai ficando mais escuro. De repente outro comentário:
- Ele é alemão!
Vi nos filmes que alemão é uma gíria usada por traficantes para designar traficantes rivais de outros morros... Deu aquele friozinho na barriga, mas, claro que não saí correndo. Virei lentamente e sem olhar para os lados retornei para o centro da cidade. O morador da cidade me havia indicado uma boca de fumo. Será que peça de bicicleta seria um código para maconha?
O jeito foi ir até o posto na BR e montar a barraca. Iria desmontar a bike e colocá-la em um ônibus até a cidade mais próxima. O dono do posto de gasolina não deixava estranhos dormirem em seu estabelecimento, mas resolveu abrir uma exceção para mim, ao ver que a bike estava realmente estragada. Ele me fez inúmeras perguntas, como que para saber se eu era uma pessoa idônea.
O dono do posto não me parecia estranho, parecia que eu o conhecia de algum lugar. E ficava me olhando bem nos olhos. E eu também ficava encarando ele, para tentar lembrar de onde o conhecia. Mas acho que só era parecido com alguém que eu conhecia. Era até um pouco engraçado.
Mas ele era gente boa e também liberou o banheiro para tomar um banho. Os funcionários do posto foram muito legais comigo também, me ofereceram café e dois pães com mortadela. Um dos frentistas foi até a casa do mecânico de bike, que não demorou a chegar. Olhou a catraca estragada e voltou para buscar uma nova. Demorou um pouquinho para chegar, mas no final conseguiu arrumar a magrela, o que foi um alívio, pois já estava planejando desmontar a bike para ir de ônibus até a cidade mais próxima.
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