sexta-feira, 31 de maio de 2019

44º dia pedalanças-4ª etapa- Estrada Real Caminho dos Diamantes


Antônio Pereira-Catas Altas-Santa Bárbara
    Um dos raros dias que acordo muito bem humorado e bem disposto, pronto para começar a pedalança do dia. Estava indo tudo muito bem, o visual em frente ao posto estava muito bonito na parte da manhã. Até resolvi filmar, mas aí apareceu uma viatura da polícia militar para tirar o meu bom humor. Nada contra os homens da lei, é até melhor que estejam presentes em todos os lugares possíveis, pois isso é garantia de sossego. 
    Mas nas pedalanças e andanças polícia é quase sinônimo de interrogatório:
    De onde vim, para onde vou, se tenho alguma passagem e por aí vai... E, claro a apresentação dos documentos. Às vezes tenho que abrir a mochila para uma revista mais detalhada. Até hoje não tenho nada do que reclamar do trabalho da polícia. Mas sou meio paranoico e às vezes penso que a polícia está também contra a minha pessoa, apesar de ser um cidadão pacato e honesto. 
   Mas o policial nem conversou comigo, apenas ficou observando-me desmontar a barraca. Acho que ele desistiu de me revistar por causa do tamanho da mochila e também por causa da minha cara de mau humorado que havia feito. E também é claro que estava calmo naquela manhã, não demonstrando estar com alguma substância ilícita ou armamento. 
    

     Depois do café sigo para o município de Santa Rita Durão. A estrada não tem acostamento, nem pista dupla e ainda por cima tem um intenso movimento de carretas e carros. A Samarco fica bem próxima de onde dormi. E tem muitas barragens nessa região. Ontem havia passado pela entrada de Bento Rodrigues. Por causa do rompimento da barragem o caminho da estrada real foi desviado para essa estrada. Originalmente passava por Bento Rodrigues e mais outras cidades... 
    Nesse trecho não vi uma casa ou lanchonete, só muita carreta e carro mesmo. Passei em frente à entrada principal da Samarco. Está tendo muita movimentação do outro lado da estrada, não sei bem o que estão construindo... 
O que estão construindo em frente da Samarco?

     Mas essa estrada tem um visual bem bonito. Em Catas Altas tem a linda Serra da Caraça. Depois da entrada da última barragem o caminho seguiu mais tranquilo sem a intensa movimentação de carretas. Almocei um pouco antes de chegar em Catas Altas em um distrito chamado Morro de Água Quente. O pessoal do restaurante foi muito legal comigo. A minha grana estava acabando e então me ofereceram um marmitex com um rango que estava uma delícia. Um garçom ainda me deu um refrigerante e ficamos conversando sobre a viagem por quase uma hora. Ele me disse que tem uma bicicleta mas só faz pequenas viagens. Notei que ele sentia uma certa admiração quando eu contava as minhas aventuras. Deu para perceber que ele pelo menos pensa em fazer algo parecido algum dia, mas que parece que tem família para cuidar. 
    Como já disse, nesses 44 dias de viagem já conversei mais do que o ano passado inteirinho... E em algumas pessoas notei esse olhar de admiração dando a perceber que elas chegam a pensar em fazer o mesmo algum dia. Geralmente dizem que até querem ir, mas que falta é a tal da coragem... 
    O garçom do restaurante na saída me deu um pacotão de biscoitos de polvilho, que deixo amarrado no quadro da bike. E deixo o saco aberto e vou pedalando e comendo... 
    Catas Altas é uma cidade bem simpática, aos pés da serra do Caraça. Um visual bem bacana. Apesar de ser dia de semana, vi pouquíssimas pessoas no centro. 

    Na saída de Catas Altas  pela estrada de terra uma bifurcação sem nenhum marco ou sinalização, o que me deixa um pouco irritado. O único sinal de vida que havia por perto era o som de uma música sertaneja, que parecia vir de um lugar um pouco longe. O jeito foi ir em sentido ao som para tentar achar alguém para pedir informação. Encontrei um pessoal construindo uma casa na beira da estrada de terra, e, por sorte havia escolhido o caminho correto.... 
    É uma relação de amor e ódio com a estrada real... Amo o caminho, tanto é que já percorri três e estou percorrendo o último, o caminho dos Diamantes. Mas algumas situações me tiram do sério, e bifurcação sem sinalização é uma delas.... 
    E segui o caminho, em direção à Santa Bárbara. O caminho é muito lindo principalmente por causa da Serra do Caraça. 


        Antes de chegar em Santa Bárbara cometi uma burrada. É que vi uma placa com uma seta e interpretei mal a sinalização e acabei entrando em uma estrada de terra errada. Estava tão convicto que estava no caminho correto que nem perguntei nada para nenhum caminhoneiro. E comi muita poeira pois passava muito caminhão. Só depois de uns cinco quilômetros é que comecei a achar estranho o fato de só avista eucalipto por todos os lados. A água já havia acabado e estava com muita sede, ainda bem que passava muito caminhão e o motorista me informou que eu havia pego o caminho errado. Nem pensei em dar piti e ficar gritando no meio do mato, pois a burrada foi minha mesmo. Quando fico perdido no meio do mato às vezes dou uns gritos e falo alguns palavrões para descarregar, principalmente quando a culpa é a falta dos marcos da estrada real. 
perdido e comendo poeira....

     Para piorar tudo, um motorista de caminhão me fala que tem um atalho, que era só descer uma estradinha de terra e acompanhar o curso de um rio que eu chegaria à Santa Bárbara. Estava muito cansado, mas confiei no motorista e acabei descendo. Desci uns 70 metros e nada de encontrar rio. Nem aquele barulhinho de água consegui ouvir. O jeito foi subir novamente empurrando a bike. Aí não teve jeito, tive que falar palavrão.... 
    Chego em Santa Bárbara por volta das quatro e meia da tarde. O ginásio da cidade está fechado. Não havia encontrado no caminho nenhuma água para tomar um banho. Os postos de gasolina não tinham chuveiro. O jeito foi pedir um balde de água para uma mulher que estava limpando a calçada. Fui para a parte de trás do ginásio e tomei aquele banho.... 
     Pode ser banal ficar relatando todos os dias como consigo me banhar. Mas não é, pois para um turista de baixa renda como eu conseguir tomar banho é uma aventura. O banho é quase uma garantia de uma boa noite de sono. É também serve para repor as energias, relaxar a musculatura e, claro, não ficar muito fedendo... 
     A impressão é que fico uns dois quilos mais leve depois de me banhar. Vou para o sacolão pegar papelão para montar a barraca. A caixa do estabelecimento é muito gente boa, além de ter olhos lindos. Eram de um azul muito brilhante. Eram tão bonitos que até desviei o olhar com medo de ficar enfeitiçado diante de tanta beleza. 
     Depois de algumas voltas pela cidade encontro um bom local para montar a barraca: um estacionamento que fica ao lado da rodoviária. Como é uma cidade do interior, o movimento de ônibus acaba por volta da meia noite. 
a placa estava meio torta e acabei me confundindo  

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