quinta-feira, 16 de maio de 2019

38º dia pedalanças- 4ª etapa- Estrada real-Caminho Novo


Juiz de Fora-MG à Santos Dumont-MG
    Mais uma noite tranquila no ponto de ônibus no centro de Juiz de Fora. O dia amanheceu com algumas nuvens, mas sem chuva e com a sensação de que o sol irá aparecer. E com o sol, o meu bom humor também aparece. 
   É hora de voltar a pedalar, chega de ficar parado o dia inteiro na mesma cidade.  Depois de sete anos pego novamente uma planilha da estrada real. Já estava com saudade de ver os marcos me guiando pelas estradas de terra. 
    Havia colocado na cabeça de que iria fazer os quatro caminhos da estrada real. Mas em 2014 tive uma lesão no dedão esquerdo do pé. Infelizmente não tive um bom atendimento pelo SUS e a lesão acabou se tornando uma fratura completa da articulação. Fiquei um bom tempo mal, sem saber o que fazer. Parar de uma hora para outra de praticar esportes não é nada fácil para quem desde criança tinha uma vida bem agitada em relação a atividades esportivas. 
    A fratura acabou se calcificando, e encontrei alternativas como um tênis super macio para caminhar. Comecei a tomar cloreto de magnésio para as articulações e por fim descobri a bicicleta com um meio de transporte e de bem estar. Também emagreci 4 quilos para aliviar a carga. 
     Aos poucos fui recuperando a saúde e a alegria de viver. Não iria me perdoar nunca se não completasse os quatro caminhos da estrada real. Tarefa dada é tarefa mais do que cumprido pelo esquizo. 

feliz por reencontrar a estrada real 

    Aos poucos o sol foi dando as caras e o meu astral foi lá para cima. Na saída de Juiz de Fora encontro o primeiro marco do caminho. Irei fazer o caminho novo e o caminho dos diamantes. O caminho novo começa em Petrópolis, mas, como já relatei, estou começando por Juiz de Fora, pois os postos de gasolina na região de Juiz de Fora e no Rio de Janeiro geralmente não deixam ninguém dormir e muito menos montar barraca para passar a noite. 
     O caminho no início é muito bom, mas logo os buracos e as pedras tomam conta. O pneu da frente passa a emitir um som estranho, parecendo que está empenado. Já fico na dúvida se a bike irá aguentar fazer esse caminho  da estrada real, que é composto quase que 90% de estradas de terra, algumas boas, outras mais ou menos, e algumas péssimas. 
    
    Após algum esforço consigo sair desse trecho da estrada que não está muito bom e sigo para o distrito de Dias Tavares, onde dou uma parada e como um delicioso pastel de frango. Sempre procuro fazer umas cinco ou mais refeições por dia, entre almoço, café da manhã e lanches. Emagreci cinco quilos até este momento da viagem. Estava pesando 83kg antes de viajar... 
    Sigo o caminho e encontro uma vertente de água. Claro que tomo um banho e lavo algumas roupas. Não havia ninguém por perto. Volto a pedalar, e o caminho começa a ter muita lama e quase não encontro sinalização, tanto da planilha da estrada real como do município. 
    A lama toma conta da bike e a corrente começa a embolar nas catracas. E, para piorar, estou tendo que pedalar descalço por causa da lesão que tive no dedão do pé direito que ainda não cicatrizou. 
   Essas viagens me acalmam e me fazem um bem danado. Mas se tem uma coisa que me tira do sério são os caminhos mal sinalizados da estrada real. Ou é a planilha que está errada, ou é um marco que está faltando no caminho, ou então uma bifurcação que não tem nenhuma sinalização. 
não estava chovendo mas nos dias anteriores estava... 
    A sensação de achar que estamos andando sem rumo é uma das piores possíveis nesta viagem. Só vi bois e cavalos neste trecho. Ninguém para perguntar qual caminho seguir. E nenhum marco da estrada real também. Durante o caminho muitas vezes encontramos marcos bem próximos uns dos outros indicando apenas para seguir em frente. Mas, nas trilhas, onde deveriam ter maior sinalização, muitas vezes não encontramos nenhum marco. Deveriam fazer marco de um metros de altura para as trilhas.
    De nada adiantou o banho que tomei por volta do meio dia. Estou todo sujo de lama e suado. É a minha primeira experiência em viagem de bike por estradas de terra. Não imaginava que era tão cansativo pedalar por esse tipo de terreno. Não tem descanso: muitos buracos, lama, pedras... Nem na descida dá para relaxar, pois se dermos bobeira poderemos levar um tombaço. 
    A sensação que tenho é que andar 30km em uma estrada de terra não muito boa cansa mais do que andar 100km em uma BR asfaltada. É legal andar de bike nesse tipo de terreno, mas com uma bicicleta apropriada e sem muita carga. 
     Depois de quase uma hora andando naquela lamaceira comecei a achar que estava perdido. Nenhuma alma viva para perguntar onde estava. Olhava em volta e só via mato e uma ferrovia. Bem ao fundo dá para ver uma fumaça saindo, provavelmente de alguma usina. Mas cidade mesmo não via nenhuma. Tinha que chegar ao Distrito de Chapéu d'Uva, mas não via nenhuma placa também. 
     Desespero e raiva iam tomando conta de mim. Já não sabia se prosseguia em frente no lameado caminho de terra sem placas ou então retornava e seguia até Santos Dumont pela BR... Mas aquele caminho iria dar em algum lugar, em alguma cidade. Talvez não fosse o distrito de Chapéu D'Uva, mas seria um lugar onde poderia passar a noite. A minha barraca não aguenta muita chuva e geralmente a monto em locais cobertos quando o tempo está nublado. 
    De repente ouço ao fundo o barulho do motor de uma moto, o que me deixa mais animado e aliviado. O cara aparece pilotando uma CG 125 mas não passa direto. Só iria perguntar se estava no caminho certo para Chapéu D'Uva. Fiquei furioso e os palavrões que disse não podem ser publicados aqui no blog. 
    O jeito é seguir em frente. Agora ouço barulho de um carro. E não é que o maledito também passa direto? Proferi mais palavrões, que ecoaram pela floresta afora.. Xinguei até a quinta geração daquele motorista. Já começo a imaginar que estão armando um complô contra a minha pessoa para que eu fique perdido no meio do mato e não desista de terminar os quatro caminhos da estrada real. 
     Mas continuo a seguir o caminho até ouvir novamente o barulho de uma outra moto, mas dessa vez o cara para e me diz que estou no caminho certo para Chapéu D'Uva. Até para digitar o nome desse lugar é complicado!!!  Mas que alívio tomou conta de mim! Era como se tirasse um peso de 200kg de minhas costas. 
 
até que enfim o distrito de Chapéu D'Uva.... 

    Pedalo com maior velocidade, a fim de tentar encontrar algum restaurante para almoçar. Deveria ser por volta de uma hora da tarde. Mas, para minha infelicidade o distrito é bem pequenino e não tem restaurante. O jeito é pedalar mais uns 35km até a cidade de Ewbank Câmara... 
    Não perco tempo e continuo a pedalança, apesar do cansaço. Tenho que encontrar algum lugar para almoçar, O corpo sente muito no dia seguinte quando ficamos só no sanduíche e salgadinho. E também não quero emagrecer muito. 
    Mais estradas de terra, algumas subidas íngremes e finalmente chego em Ewbank Câmara. Tem alguns restaurantes, mas já são três horas da tarde e não consigo achar algum lugar para comer um arroz com feijão. O jeito foi comer pão com presunto e mussarela e yougurte.... 

    Saciada a  fome, sigo para Santos Dumont, distante cerca 12km de Ewbanck Câmara. Para descansar sigo pela BR, nada de estrada real de terra e lama por hoje. Andar pelo asfalto já virou algo fácil e simples para mim. Dá para descansar pedalando em muitos trechos. O incômodo maior é com o celim da bike e ficar muito tempo em uma mesma posição. 
   Segui pela BR por que a bike está muito suja e a corrente à todo instante embola nas catracas, talvez por causa da terra e da lama. Paro em um posto de gasolina e dou uma boa lavada na magrela. Tiro toda a terra e depois lubrifico a corrente. Na TV do restaurante do restaurante do posto está passando jogo amistoso da seleção brasileira, mas prefiro continuar a pedalar. 
    A limpeza na bike surtiu efeito, novamente ela está andando com fluidez e passando as marchas normalmente. E então segui pela BR mais aliviado até chegar em Santos Dumont. 
    Paro em um posto de gasolina e consigo um quiosque super bacana para montar a barraca. Espero que os outros dias sejam mais tranquilo e que tenham estradas de terra um pouco melhores do que as que encontrei hoje. Me lembro quando fiz o caminho velho a pé não havia encontrado caminhos tão complicados. 

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